Como parte dos eventos do Ano da França no Brasil, o Instituto Tomie Ohtake traz pela primeira vez à América do Sul uma retrospectiva de Jean Dubuffet (1901-1985), o maior artista francês da segunda metade do século XX. A mostra é composta por uma seleção de 84 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos e litografias, realizadas no período de 1944 a 1984 – Materiologias, Texturologias, o famoso ciclo Hourloupe e seus desdobramentos –, provenientes da coleção da Fundação sediada em Paris, constituída pelo próprio artista. A exposição traz ainda, em um palco de 40 m2, as pinturas recortadas Coucou Bazar que, animadas, compuseram a performance, realizada pela primeira vez em 1973, no Guggenheim de NY, por ocasião de uma grande retrospectiva do artista naquele museu. Até 7 de setembro de 2009
Site aux paysannes, 1966. Fondation Dubuffet, Paris. Foto: Divulgação.
Segundo Ricardo Ohtake, diretor do Instituto, Jean Dubuffet estabelece um interessante paralelo com Tomie Ohtake, artista que dá nome ao espaço, pois ambos começaram a pintar tardiamente, após os 40 anos, e construíram trajetórias alheias às tendências históricas, contudo sem ignorá-las, trabalhando com liberdade a pintura, a escultura e a arte pública. Para Ohtake, ainda, o artista francês realizou um trabalhou inovador e inesperado em sua época. “Estas características e, sobretudo, o impressionante surto criativo de Dubuffet, que construiu linguagens opostas sobre o mesmo tema nas duas fases mais importantes de sua trajetória, trazem esta exposição ao Instituto Tomie Ohtake”, completa.
Debulatoire, 1981-. Jean Dubuffet. Fondation Dubuffet, Paris. Foto: Divulgação.
O artista instintivo Jean Dubuffet que acreditava na criação proveniente de fontes próprias, livres de influências teóricas ou dos ditames da arte, cunhou o termo Arte Bruta justamente para rechaçar o caráter seletivo das artes e valorizar a manifestação expressiva espontânea. Foi um grande colecionar e estimulador de nomes dessa corrente artística, porém, da qual nunca pertenceu devido à sua destacada condição intelectual, como comenta a curadora da exposição. O imóvel onde guardava esta coleção de Arte Bruta é hoje sede da Fundação que leva seu nome, na Rue de Sèvres, em Paris.
“Artista ímpar, cioso de sua singularidade, Jean Dubuffet pôs-se resolutamente à margem das correntes dominantes da arte contemporânea, ao rechaçar toda e qualquer herança e haurir em fontes outras, que não as da modernidade, os fluxos que conduzirão sua obra (...) o trabalho de Dubuffet deve igualmente ser considerado uma entidade autônoma, com seu ritmo próprio de evolução e suas propriedades constantes“, escreve Alfred Pacquement, diretor do Museu Nacional de Arte Moderna – Centre Georges Pompidou, em seu ensaio sobre o artista, que fará parte do catálogo da exposição no Brasil. Segundo Pacquement, aspectos como a valorização do inconsciente, defesa do caráter irracional e da imaginação na arte, como expressões diretas do artista, vindas do surrealismo, dadaísmo e expressionismo, também aparecem na arte de Dubuffet.
O artista francês trabalhava com grande liberdade técnica e utiliza diversos materiais em sua produção. Da década de 40 a 60, suas pinturas sublinham a experimentação de texturas com cores e materiais diversos, mostrando uma recusa da representação. As assemblages incorporam materiais não artísticos a telas, como areia, gesso, asas de borboleta, resíduo industrial, etc. Mais tarde a questão gráfica, o desenho, intensifica-se em sua obra. Contudo, aponta Pacquement, a permanência de certos temas — a natureza, por exemplo —, o gosto pelo fato cotidiano, o recurso a técnicas pictóricas específicas, a escolha altamente consciente da experimentação, associada a um controle extremamente estrito dos desenvolvimentos da obra, são características que perpassam todas as fases da produção do artista.
A única vez que Dubbufet expôs no Brasil foi a antológica exposição realizada no MASP e no MAM-RJ, em 1973, que unia suas obras às de Giacometti, Bacon e de Kooning, dez obras de cada um, artistas, com exceção do último, com trajetórias próprias e solitárias.
Exposição: Jean Dubuffet
Abertura: 15 de julho, às 20h (convidados)
Até 7 de setembro de 2009, de terça a domingo, das 11h às 20h – entrada franca
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201 (Entrada pela Rua Coropés) - Pinheiros SP Fone: 11.2245-1900
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